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Tag Archives: Leonardo Reis

O cantor de São Jerônimo Leonardo Reis não mede esforços para mostrar seu trabalho e correr atrás de seus sonhos

Viviane Bueno

Um violão de plástico vermelho. Essa é a lembrança mais remota que o cantor Leonardo Reis tem ao falar de música. Natural de São Jerônimo, o jovem que se esquiva de falar a idade, revela os bastidores de uma carreira nada fácil. Vestindo uma camisa de fundo branco com listras suaves em azul e uma gravata preta, a conhecida roupa da sorte, Leonardo, de voz suave, não esconde a emoção de falar do que mais gosta de fazer: tocar seu violão preto e cantar.

Aos quatros anos ele já cantava Fuscão Preto para suas tias.

– Não deixava ninguém dormir – recorda Leonardo.

Na sua casa, o objeto que mais admirava era um toca-discos e foi ainda na infância que conheceu a banda que seria referência de seu trabalho.

– Escutava os vinis do Globo de Ouro. Nessa época tive o primeiro contato com os Bealtles também. Curtia muito a música Help. Todo mundo que chegava lá em casa se admirava comigo escutando esse tipo de canção. Eu tinha um oito anos na época. Pedia discos de presente de aniversário para meus pais. Eu ia à residência da minha avó, e ela tinha recém comprado um disco do Chitãozinho e Xororó. Ia todo dia lá só para escutar a dupla. Ela tinha também um do Roberto Carlos. Eu adorava ficar escutando os discos dela – conta.

Com a companhia de primos, Leonardo foi incentivado a tocar violão. Aos 12 anos, nas tardes de sábado, no bar da família, aconteceram os primeiros shows, embora fosse tudo uma grande brincadeira. 

Leonardo descobriu, ainda na infância, o dom para a música.

Leonardo descobriu, ainda na infância, o dom para a música.

A família vendo o dom do ainda menino incentiva Leonardo para seguir os rumos da música.

– Eu acordava muito cedo para ir à escola, e meu pai gostava de escutar a rádio Farroupilha. Teve um dia que ele estava cantando uma música do Renato e Seus Blue Caps e aquilo chamou muito a minha atenção. Meu pai sempre me incentivou. Me dava fitas e falava dos artistas – fala.

Ainda com a banda de garagem, começou a tocar contra-baixo e virou fã da banda americana Guns N’Roses.

– Eu gostava de ir ao parque de diversões só para comprar uma fita do Guns. Eu sempre preservei a música. Virei um admirador da banda e meu primo tinha uma pasta com as letras e histórias deles. Tirava xerox para ter as letras também – conta.

Os Muskitos
Já com o estilo mais para o lado do Rock e da Jovem Guarda, Leonardo e mais dois amigos colocaram o sonho de ter uma banda em prática.
– Gostávamos da mesma coisa e começamos a ensaiar. A gente trocava muita ideia. Para brincar com os Besouros dos Beatles, colocamos o nome Os Muskitos. Eu tinha 21 anos. Essa banda me marcou demais. A galera tirava foto e pedia autógrafo. Era muito bacana. Mas a banda durou um pouco mais de um ano – lembra.
E amanhã eu quero mais
Fazendo shows em São Jerônimo com os Muskitos, Leonardo começou a compor algumas músicas. Muito tímido, tinha vergonha de mostrar suas canções. Na escola, inspirado, escreveu uma letra e o hit pegou entre os mais jovens.

– Escrevi Até que enfim, tá tudo tri. Você bem sabe. Como é bom gostar de alguém assim. Ficar com ela, um refri até mais tarde. Um beijo à noite e depois muito mais
E depois é só torcer que ela diga. Gostei do dia e amanhã eu quero mais. Bah, a letra pegou de um jeito que aonde a gente ia a galera falava E amanhã eu quero mais – diz.

A Radiofônicos
A banda dos guris que tocavam de terno preto não duraria muito tempo. Divergências entre o grupo e a saída do vocalista fizeram com que Os Muskitos chegassem ao fim.
– O pessoal me parava triste na rua porque o grupo tinha terminado. Os shows em São Jerônimo me marcaram muito. Eu sabia que não podia desanimar. Fiz de tudo para me reerguer. Comecei a dar os primeiros passos em barzinho só com violão. Mas eu ficava receoso. As pessoas me incentivavam a cantar. Fui conhecendo outras músicas e comecei a dar aulas de violão. Fiz alguns cartazes procurando pessoas interessadas em formar uma banda com referências na Jovem Guarda e nos Beatles. Fui convidando alguns amigos. Então, nasceu a Radiofônicos. Curti muito esse tempo. Foi aí que começamos a sair de São Jerônimo. Eu tinha 24 anos na época – relembra.
Disposto a mostrar seu trabalho, Leonardo virou empresário e assessor de imprensa do grupo. Não mediu esforços para conseguir tocar em outros municípios.
– Fiz uma coisa bem maluca. Eu lembro que peguei uma revista da Atlântida e vi que tinha a Atlântida de Santa Cruz. Peguei o ramal da cidade e inventei um número e liguei. Atendeu uma moça de um escritório de advocacia. Expliquei pra ela o que eu tinha feito. Ela me escutou meio apavorada. Ela me deu o número de um jornal de lá. Liguei e eles me deram o nome de uma choperia. Fiz contato com o pessoal e depois de muita insistência, nos convidou para tocar lá – conta aos risos.
A partir daí, a ligação com os municípios da cultura alemã foi ganhando força.
– Escutava a rádio de Feliz que tocava muitas músicas dos Beatles. Fiz amizade com o locutor e conseguimos fazer um show numa festa à fantasia. Fiz muitas amizades. Nas apresentações sempre acontecia alguma coisa engraçada. Muita coisa a gente fazia no improviso – destaca.

Ele acredita que para ter sucesso é indispensável doses de luta e sacrifício. Foto: Viviane Bueno

Ele acredita que para ter sucesso é indispensável doses de luta e sacrifício. Foto: Viviane Bueno

O desejo de tocar no shopping de Lajeado
Entre uma viagem e outra, Leonardo fazia seus contatos para garantir futuros shows. Em um almoço, no shopping de Lajeado, ele viu um músico cantando e tocando violão.
– Aquilo me chamou a atenção e disse pra mim mesmo que um dia eu ia tocar naquele lugar – ressalta.
O maior público da banda
Em Bom Princípio, durante a Festa do Moranguinho, a banda tocou para um público de 15 mil pessoas, um record da Radiofônicos.
– Naquele dia, fizemos a abertura do show do César Menotti e Fabiano. Iríamos tocar no meio da tarde, mas como estava chovendo muito, a banda que ia tocar depois da gente desistiu e acabamos tocando antes da dupla. Fomos sem cachê, sem nada. Eu não via o fim da multidão. Nessa época o sucesso Ana Júlia, do Los Hermanos era um hit entre a galera e aproveitamos e tocamos a canção. Bah, o pessoal contou junto com a gente. Foi emocionante – lembra.

Um novo recomeço
Com o sonho de viver só de música e sentir na pele cada segundo de expectativa, frio na barriga e ansiedade antes de cada show, Leonardo tocava sem cachê e via em cada lugar que passava uma oportunidade de se fazer reconhecido.
– Comecei a notar que cada um da banda ia seguindo seu rumo. Começamos a nos desentender. Meu pai me incentivava a continuar sozinho. Muitos têm a visão que a vida de música é pesada, que rola drogas e tal. Começamos a fazer certa fama por causa disso, pois a gente ia nos lugares e não bebia nada de álcool. Trabalhei um tempo também em uma loja. Fiz muitas amizades e contatos. Ia fazendo o meu marketing. Mas eu não queria que a música virasse apenas um hobby. Decidi então pela carreira solo – afirma.

O show no shopping de Lajeado

Ele que assumiu todos os papeis, desde empresário e assessor de imprensa, fez novamente outros contatos para conseguir trilhar novos caminhos.
– Eu tive um retorno positivo das pessoas. A internet nessa época também facilitou o trabalho. Aí pensei no nome de Leo Acústico. Mas achei que tinha ficado meio inacabado. Voltei de novo a Santa Cruz, Feliz, Lajeado. Lembrei daquele shopping de Lajeado. Procurei o endereço na internet. Consegui fazer contato e me ofereci para tocar. Topei na hora o cachê baixo e fui para a cidade fazer o show. Até hoje quando vou pra lá fico no mesmo hotel. Fiz uma amizade com o pessoal – relata.
Nos tempos de economia
Vida de músico não é fácil. Com cachês simplórios, é preciso se revezar nas despesas para que a conta não fique no vermelho. Com Leonardo não foi diferente. Em muitos momentos, ele ia para os shows e levava bolo, pão, açúcar e café de casa.
– Em um episódio cheguei ao hotel e não tinha mais vaga. Aí o dono olhou para a mulher dele e disse: o que vamos fazer com esse gaúcho? Ele me hospedou em sua casa. Bah, aquilo foi muito bacana. Mas eu tava louco de fome. Tinha levado bolacha, um bolo e pó de café e passei o café com a água do chuveiro. Mas aí eu disse pra mim mesmo que eu nunca mais iria deixar de comer para não gastar. Comecei a ir aos restaurantes e conhecer outras pessoas e fazer novos contatos – expõe.
Superstição
Ter rituais antes de subir em um palco é hábito para Leonardo. Rezar nos bastidores, usar a camisa e a gravata da sorte são algumas das manias que são indispensáveis antes de cantar. Muito mais que superstições, o jovem falante é carregado de carisma e não é em vão que por anda passa, deixa um rastro de amizades.
O nome Leonardo Reis
Incomodado com Léo Acústico, em 2009, resolveu procurar outro nome para caracterizar seu trabalho.
– Tipo, eu chegava aos lugares e dizia: eu sou o Léo Acústico. Achava tri estranho. Comecei a trabalhar em cima do meu próprio nome – explica.

Trilha sonora da vida 
Muito mais que uma profissão, ser músico para ele é uma paixão. Vencendo a timidez de mostrar canções de sua própria autoria, Leonardo pretende continuar fazendo a cada dia, mais shows.
– A música é a trilha sonora da minha vida. Não tenho como me ver sem ela – resume.
Ele acredita que para ter sucesso é indispensável doses de luta e sacrifício. A cada dedilhar, conquista novos públicos. É na simplicidade e na simpatia que Leonardo espera alcançar seus desafios.